Postado por William Borges , quarta-feira, maio 19, 2010 10:58

Até que a gente desapareça haverá vestígios, restos e resquícios de tudo que sentimos enquanto fomos só e apenas enlouquecidamente apaixonados pelo mundo e, sobretudo, um pelo o outro. Nossos beijos no escuro, nossos silêncios repentinos e nossas conversas cheias de vontade de serem mais sinceras, menos contidas. Ficará ainda um tanto de saudade, um pouco de vontade de voltar no tempo, e uma certeza imensuravelmente plena, de que até o nosso desencontro tenha valido a pena.

Postado por William Borges , domingo, maio 16, 2010 10:52

Deixa eu passar aí pra gente fumar um cigarro - prometo que vai ser rápido - hoje acordei com tanto para dizer, um tanto para contar, um tanto que não dá mais para esconder. Não tomarei muito do seu tempo, da sua vida, serão dois ou três tragos e então a despedida, dessa vez bem contida, como não poderia deixar de ser. Quero te falar das músicas que andei ouvindo, dos caminhos que estive descobrindo e das tardes frias que senti saudade, que senti vontade de bater aí na sua porta para te roubar para mim – sim, simples assim – para enfim partirmos adiante, avante, como já foram os nossos sonhos, as nossas promessas, as nossas conversas desperdiçadas pelos percalços da insensibilidade humana.

Não, não quero te fazer mudar de ideia.

Será apenas a minha mão na sua mão, um abraço distante e um beijo – faz algum tempo que não te vejo como te via, e acho que o nosso velho encontro ao menos parece digno de não ser engavetado, evitado, voluntariamente desmemorado das nossas memórias. Tenho aqui comigo uma última carta, as minhas últimas palavras, letras combinadas em lágrimas que passei muito tempo evitando, adiando e prolongando. Vou ler nos seus ouvidos – no meio do silêncio absoluto – e em seguida eu saio, vou embora, anuncio que chegou a hora, a nossa hora, de nos enganarmos pensando que podemos ser felizes esquecendo a nossa história.

despedida

Postado por William Borges , segunda-feira, abril 19, 2010 07:36

'' Eu amo você, mais do que imaginei '' disse limpando as lágrimas, sozinha.

Deixou seu rosto correr para os lados, buscou nos pensamentos e nas suas incertezas uma certeza que estava entalada na garganta, no peito e no despeito, e brincou mais uma vez com os segundos do tempo. Seus olhos encontram os meus, se desencontraram, e as nossas mãos se apertaram e se desenlaçaram pela última vez, lá embaixo. Tomou um último gole de vento, e de coragem, trouxe de novo seus lábios para perto, agora certos, e confessou outra vez nos meus ouvidos, sussurrando: “Mas preciso ir embora”.

Caminhamos então para a porta.
E nos despedimos, mais uma vez, sorrindo.

Partida

Postado por William Borges , domingo, fevereiro 07, 2010 07:10

Na terceira cerveja já me olhava diferente, isso posso garantir. Tinha pouco medo, muita vontade e um tanto desconsiderável de insegurança, toda sua velha e pobre cobrança estava começando a se esfarelar em perguntas pouco profundas. "O que você espera?", arriscou, seguindo em um largo gole na quarta ou quinta garrafa da noite. Tirei um cigarro calmamente do bolso, pedi o isqueiro sem olhar em seus olhos e dei um longo trago como se fosse o último trago da minha vida. "Quero ir", respondi, olhando para os meus pés e tragando pausadamente todas as lágrimas do mundo. Eu quero ir para o mundo.

Acordar de sonhos intranquilos

Postado por William Borges 06:26

Ela disse que ficaria mais cinco minutos, nem um segundo a mais. Levantou da cama com calma, cobriu todo o corpo com uma camiseta velha que tinha achado no guarda-roupas, e acendeu um cigarro na janela aberta, olhando a cidade dormindo lá em baixo. Pensou no que tinha feito, no que estava fazendo, e no que faria mais tarde, trinta minutos mais tarde, quando o dia estaria amanhecendo. Pensou em nós dois, no que conversamos antes, nas promessas que fizemos para depois, e no agora - agora que tudo estava fazendo sentido. Então apagou no silêncio o cigarro, e deitou mais uma vez do meu lado. Sorrindo.